Autores: PAIVA, A. L.; SCHVARSBERG, G.
Em fevereiro e março de 2022, duas tragédias relacionadas a chuvas extremas ocorreram no município brasileiro de Petrópolis. Suas consequências incluíram centenas de mortes humanas, milhares de famílias desabrigadas e impactos severos na infraestrutura urbana, na economia e na saúde mental da população. Quais contribuições a arquitetura e o urbanismo poderiam oferecer nesse cenário? Ao inaugurar este trabalho, essa pergunta logo suscitou outra: que contribuições nosso campo forneceu a Petrópolis para evitar tragédias como essas? A busca por respondê-las revelou que a arquitetura e o urbanismo não se fizeram ausentes frente a tal demanda, mas sua atuação se concentrou nas esferas institucionais. A correlação de forças nessas esferas fez com que outros interesses se sobressaíssem ao que se propunha para deixar a cidade mais resistente e segura em eventos climáticos extremos. Tal fato indica ser importante ampliar a atuação arquitetônica e urbanística, buscando contribuir com a mobilização social. Para colaborar com essa perspectiva, o artigo apresenta ações de pedagogia urbana realizadas em Petrópolis e discute seus objetivos, métodos, conquistas e limitações. Partindo das reflexões de Erminia Maricato sobre o “analfabetismo urbanístico” produzido pelas estruturas de poder e visando posicionar no fazer arquitetônico e urbanístico as contribuições do educador popular Paulo Freire, tais ações focam na importância dos transportes ativos e coletivos protagonizarem a mobilidade municipal, superando a vigente hegemonia do automóvel. Por serem mais eficientes no uso do espaço, os modais defendidos podem se conciliar com a necessidade de ampliação de áreas destinadas à condução, infiltração e retenção das águas, capazes de reduzir a intensidade de inundações durante chuvas extremas.